domingo, 1 de novembro de 2009

Balaiada (1838-41)

Na época da independência, a economia maranhense era controlada pelos portugueses ou pessoas a eles ligadas, já que era comum o casamento entre portugueses e membros das elites locais. A junta de governo que estava no poder manteve-se file a Lisboa. Os liberais radicais formaram tropas favoráveis à independência, mas, devido à força dos interesses reinos, o Maranhão só foi incorporado ao império com a ajuda de tropas do governo central, lideradas pelo mercenário Greenfell.

Após a independência, nada mudou no Maranhão. A economia continuou dominada pelos portugueses e seus aliados. A imensa população trabalhadora formada de escravos negros, negros libertos e mestiços era dominada e humilhada pela elite branca – dividida em partidários de Portugal e republicanos. Quase não havia defensores do império de D. Pedro I.

As elites da província dividiam-se em duas tendências políticas. Os liberais exaltados eram conhecidos como “bem-te-vis”, nome de seu jornal. Os conservadores eram conhecidos como “cabanos”, nome pejorativo no Maranhão. Os dois grupos disputavam pelas armas o poder na província. Os soldados dos dois agrupamentos políticos eram as massas populares. Os vencedores dedicavam-se a perseguir os adversários com violência e humilhação. Os crimes políticos ficavam impunes e davam origem a outros crimes.

Aproveitando-se da instabilidade política, milhares de negros escravos fugiam e aquilombavam-se, dedicando-se ao saque das fazendas. Os negros e mulatos livres, chamados de “sertanejos”, ocupavam-se das funções mais humildes: boiadeiros, trabalhadores agrícolas, barqueiros. Eram o grosso da tropa nas lutas pela independência e, depois, nos combates entre as facções políticas. Esse grupo expressava seu descontentamento de uma forma primária, dedicando-se a atos de vandalismo. As guerras e guerrilhas de que haviam participado serviram-lhe de escola para qualquer ato de desespero ou de ajuste de contas.

No dia 13 de dezembro de 1838, o mulato Raimundo Rodrigues e alguns companheiros atacaram a cadeia da vila de Manga. O objetivo era libertar o irmão de Rodrigues, acusado de assassinato.

Deixados livres pelo mulato, os soldados aderiram aos atacantes. Por todos os lugares que a coluna passava em sua fuga das autoridades provinciais, havia novas adesões de mulatos, negros sertanejos e negros aquilombados. Era uma explosão de velhas queixas, amarguras, ressentimentos, desencantos e dificuldades, até então contidos. O mulato Francisco dos Anjos Ferreira, artesão que fabricava balaios e que acabou por dar nome ao movimento, aderiu à revolta para vingar o estupro de sua filha por um capitão branco. A partir do momento em que se integrou ao movimento, Francisco dos Anjos jurou vingança a todos os que não fossem de sua cor e condição social. Nenhum dos participantes era politizado e nenhuma das facções políticas estava por trás do movimento. Eram grupos humildes da província que haviam pegado em armas. Atacavam com ferocidade para eliminar os brancos de algumas vilas. O outro lado respondia com igual violência.

O movimento crescia rapidamente. Em pouco tempo, dominava toda a parte ocidental da província. Depois de inúmeros saques e confrontos, os balaios compreenderam que havia chegado a hora de definirem seus objetivos políticos. Organizaram um conselho militar e uma junta provisória de governo na cidade de Caxias. Enviaram embaixadores para tratar da paz com as autoridades provinciais e, para pôr fim à luta, fizeram uma série de exigências: anistia para todos os rebeldes, julgamento dos presos segundo a lei que organizara a Guarda Nacional, manutenção dos postos militares pelos revoltosos, pagamento dos soldos das tropas rebeldes, expulsão dos portugueses natos e restrição dos direitos dos naturalizados.

Não houve acordo, e a luta prosseguiu com brutalidade. No parlamento do império, discutia-se o que estava ocorrendo na província. O governo regencial percebia a gravidade da situação. Não se tratava apenas das costumeiras lutas entre facções das elites; era um movimento social, de camadas populares, que ameaçava as elites. O combate não podia ser deixado apenas a cargo das autoridades provinciais. Tropas do governo central foram enviadas, sob o comando de Luís Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias. Muitos líderes balaios foram presos ou mortos. Os balaios pareciam ter sido exterminados, mas eles continuaram resistindo nos sertões até 1840. A anistia concedida por ocasião da maioridade de dom Pedro II acabou com o movimento. Essa luta, que era a das mais humildes camadas da população, assustou as autoridades do governo central e contribuiu para apressar o regresso conservador que já estava em marcha.

Referências Bibliográficas

CHIAVENATO, Júlio José. As lutas do povo brasileiro: do "descobrimento" a Canudos. 2. ed. são Paulo: Moderna, 2004.

OTAVIO, Rodrigo. A balaiada. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1942.

PRADO JR, Caio. Evolução Política do Brasil. São Paulo, Brasiliense, 1983.

_____________. História econômica do Brasil. São Paulo, Brasiliense, 1979.

SANTOS, Maria Januária Vilela. A Balaiada e a insurreição de escravos no Maranhão. São Paulo, Ática, 1983.

SODRÉ, Nelson Werneck. A históira militar do Brasil. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1979.

Por prof. Yuri Almeida

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